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Bill Carrothers
Joy Spring
CD
Pirouet 2010

 

Há uma tendência pateta de uma linha supostamente modernista do Jazz de menosprezar o bebop como uma corrente menor ou ultrapassada do Jazz. Esta corrente opõe-se a uma outra não menos disparatada de afirmar o bebop como a única corrente do verdadeiro Jazz. A obra de Bill Carrothers e este disco - homenagem ao malogrado Clifford Brown - em particular, contribui para colocar as coisas no seu devido lugar: há um lugar próprio, não o único, para a herança bop, no Jazz contemporâneo, que continua a ser uma fonte aparentemente inesgotável de inspiração. Mesmo se é possível e desejável repensá-lo, renová-lo ou modernizá-lo.
Spring Joy pode levar a pensar que a «renovação» do bebop por Carrothers - e os irrepreensíveis Drew Gress e Bill Stewart, sem os quais ele talvez não fosse possível - não seria afinal mais que um bop burilado; e essa espécie de smooth bop seria ainda assim mesmo uma possibilidade, mas não é o caso: ouça-se o swing vertiginoso em “Powells’ Prances” ou “Gerkin for Perkin”, a par das menos convencionais interpretações de “Jordu” ou “Tiny Capers”, do longo lamento de “I Remember Clifford”, de melodia muitas vezes apenas sugerida nos lentos espaços, da intrigante balada (trauteada ao jeito de Jarrett) “Delilah”, o silêncio em “Time”, o inquieto “Daahoud” ou enfim a luminosa recriação de “Joy Spring”.

Bill Carrothers (p)
Drew Gress (ctb)
Bill Stewart (bat)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #8)